Você que mora nos grandes centros já deve ter tido dificuldades de comunicação ou acesso à Internet. Agora imagine que os grandes centros são considerados o paraíso da oferta de acesso quando comparados ao restante do território nacional.
Somente 40% do Brasil pode ser considerado bem assistido em relação ao acesso aos meios de comunicação. Nos outros 60% do território, esta estrutura é inexistente ou falha. Isso sem falar sobre banda larga, já que recente estudo da Fecomércio RJ/Ipsos constatou que 50,3% dos brasileiros entrevistados afirmaram não ter acesso à Internet.
Tudo se baseia na demografia populacional das regiões menos assistidas. Mesmo tendo uma demanda alta de clientes – o CGI.br mostra que mais de 24 milhões de domicílios com renda familiar de até dois salários mínimos não contam com acesso à rede no Brasil –, estes locais não são atendidos pelos grandes provedores de voz e dados. Por quê? Pelo déficit na equação custo da infraestrutura e operação X retorno do investimento.
O principal meio de transporte de dados e voz pelo mundo é a fibra óptica, um meio muito eficaz, pois transporta altas taxas de dados. O fator impeditivo dessa solução é a questão da passagem da fibra, que ou deve ir por vias aéreas (postes), ou subterrâneas, o que aumenta muito os custos e acaba inviabilizando projetos para regiões de difícil acesso ou baixo índice populacional.
É muito caro para uma operadora instalar postes e prover cabeamento ótico, manter equipes dedicadas à qualidade do serviço e manutenção sempre que necessário para, por exemplo, locais rurais. Por lá haverá chácaras, sítios, casas, mas em pouco número quando comparado a uma cidade, ainda que de pequeno porte. O mesmo vale para rodovias: a estrutura para manter um sinal de qualidade via fibra óptica sairia muito cara em contrapartida ao lucro que o provedor poderia obter com usuários passantes.
Mas quem tem casa no campo, reside no campo ou trafega em uma rodovia não precisa trabalhar, acessar seus e-mails, navegar? É claro que sim. Então, como melhorar esta comunicação?
É aqui que surge um mercado importante para outros tipos de provimento de acesso. Via rádio, por exemplo. Eis aí a maneira mais rápida e eficaz de conseguir este acesso, já que rádios de micro-ondas são sistemas simples que unem dois pontos a grandes distâncias (máximo de 200Km) e transportam uma grande quantidade de dados, em geral 400Mbps.
Posteriormente, para a distribuição para os clientes locais (pessoas físicas, empresas e órgãos públicos), pode-se utilizar outra tecnologia, chamada de rádio ponto-multiponto, na qual um ponto central “enxerga” vários outros pontos (clientes) e lhes atende de forma satisfatória.
Duas tecnologias que estão aí, à mão, para romperem barreiras e levarem serviços de voz e dados a uma gama muito maior de pessoas e empresas. E o melhor: podem ser instaladas por provedores de serviços que fogem do tradicional escopo operadora/ISP. Uma empresa de radiocomunicação pode perfeitamente executar este trabalho, compondo toda a infraestrutura pela qual o serviço será posteriormente oferecido, facilitando o trabalho do operador.
Por que esta facilitação é importante? Bem, vejamos o caso dos ISPs. Pulverizados pelo país a ponto de serem considerados a quinta operadora de telefonia nacional, estes provedores são uma boa opção para levar Internet e outros serviços aonde as Telcos gigantes não querem ir. Porém, mesmo para eles esta falta de interesse das grandes é um entrave, já que o acesso principal é geralmente adquirido pelo ISP junto a uma operadora. Ou seja: se ele travar na má vontade do provedor maior, o consumidor final novamente amargará falta de serviço.
Problemas há, como se vê. Mas há muito mais demanda, e é nas soluções para elas que deve se concentrar a reflexão sobre o tema acesso e disponibilidade de serviços de voz e dados. É necessário mais estudo sobre as tecnologias disponíveis, busca das empresas clientes por opções junto aos fornecedores, pois suas exigências alimentam e direcionam o mercado, e mais atenção de toda a cadeia de provedores a locais desatendidos que não são uma mera zona de sombra: são uma oportunidade de mercado. Com esta atenção, podemos iniciar um caminho rumo a um cenário de serviços de Telecomunicações melhor, satisfatório para o cliente e rentável para toda a cadeia de fornecimento.